No passado dia 29 de Janeiro de 2010, todas as turmas de 11º ano tiveram o prazer de assistir a uma palestra que excedeu as expectativas, não só ao nível de conteúdo, como também ao nível organizacional. Este evento, que teve lugar no auditório da nossa escola, realizado no âmbito da disciplina de Português, incidiu sobre a obra “Os Maias”, de Eça de Queirós. O colóquio foi orientado pelo Professor Doutor Gabriel Magalhães, a convite das professoras estagiárias de Português/Espanhol. Foi uma experiência enriquecedora, na medida em que não se cingiu apenas a uma decomposição do romance de Eça de Queirós, como veremos infra.
Gabriel Magalhães é professor de Literatura na Universidade da Beira Interior, tendo também leccionado aulas em Espanha – país onde viveu muitos anos e onde fez o seu doutoramento. Escreve contos e romances e publicou recentemente o livro “Não Tenhas Medo do Escuro”. Depois das devidas apresentações, o Professor iniciou a sua dissertação sobre a obra e os seus personagens e, com a finalidade de as organizarmos esquematicamente, pediu a colaboração de alguns alunos presentes para uma “figuração estática” tendo estes ocupado lugares em cadeiras posicionadas de acordo com as relações estabelecidas entre as personagens principais na história.
Mas esta conferência não se ficou só pelo resumo da obra. Depois de sermos guiados pelos caminhos românticos d’ “Os Maias” foi feita uma análise, não só à história em si, mas também ao contexto em que, ao tempo, Portugal vivia, a nível político, económico e social. Assim, a obra de Eça de Queirós foi enquadrada num Portugal recentemente industrializado, com uma perspectiva muito derrotista, muito pessimista. Tirando a natureza (o Tejo, Sintra, Santa Olávia…), é tudo uma «choldra ignóbil». Predomina uma visão de estrangeirado, de quem só valoriza as «civilizações superiores» – da França e Inglaterra, principalmente.
Eça juntou, na sua obra-prima, as qualidades e os defeitos da sociedade portuguesa, que ainda hoje se verificam, o que é apanágio deste nobre escritor. De um lado, temos a família Maia, representada em três gerações: Afonso da Maia, o patriarca; Pedro da Maia, seu filho e Carlos da Maia, o protagonista, filho de Pedro e neto de Afonso. Estes três primeiros representam uma linhagem de homens cujo dinamismo era uma característica, sendo que todos apoiavam a ideia de que aquele Portugal necessitava de uma forte renovação; e ainda João da Ega, o amigo inseparável de Carlos da Maia, progressista e crítico, sarcástico do Portugal Constitucional, considerado também como a projecção literária do próprio escritor. Por outro lado, Dâmaso Salcede, nascido na burguesia, arvorava-se ares de chique e conquistador, mostrando a sua face mais repugnante ao sentir-se rejeitado pela personagem principal, Carlos da Maia. Sendo que, nesta última personagem o escritor projecta o que de pior podia haver na burguesia daquele Portugal. Todas estas figuras têm relações amorosas instáveis ou até mesmo casamentos falhados, o que é um dos temas centrais desta história, para além do tão propalado incesto entre Carlos da Maia e Maria Eduarda.
Mais do que uma crítica de costumes, a novela mostra-nos um país que se dissolve, incapaz de se regenerar. Apesar de toda esta visão derrotista, pode ver-se que subsiste ainda alguma esperança implícita em determinadas passagens.
A ideia que se tenta transmitir n’ “Os Maias” é antagónica àquela que tende a “saltar à vista”: a de um Portugal demasiado ferido para cicatrizar, em que todas as estruturas capazes de o fazer se encontram apáticas. A concepção principal é, como o Professor soube explorar muito bem, que a aptidão para a nossa nação se reorganizar reside nos jovens. É neles (em nós) que está a chama do futuro, um futuro sustentável, que só será conseguido se todos formos empreendedores, exigentes connosco mesmos, dinâmicos, activos e independentes. Será este o trilho para que se consiga compor uma sociedade capaz, com todas as ferramentas necessárias para reedificar a glória e o orgulho do “peito ilustre lusitano”, de que falava o Poeta, para que sejamos um dos grandes. Exemplos desta nossa idoneidade são todos os trabalhos, pesquisas e desenvolvimentos, em todas as áreas do saber, que temos vindo a empreender desde há muito e que são premiados todos os anos a nível europeu e internacional. Nada é impossível para nós, nada é impossível para os Portugueses, “Nobre Povo, Nação Valente”.
João Calheiros de Moura