9 de novembro de 2008

Indignação II

Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena .
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto,
esta mentira
Quotidiana
Esta comédia
desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.
Miguel Torga

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