1º Capítulo:
O dilema No dia em que quis publicar um poema sem o devido enquadramento prosaico, disseram-lhe:
— Não pode. Há um problema de géneros.
Sem saber como resolver o enigma, o autor — chamemos-lhe João, para complicar os factos — interrogou:
— De géneros? Se me chamasse Isabel poderia publicar o poema?
Explicaram-lhe que não se tratava de géneros gramaticais, nem biológicos, nem sociais, mas sim de géneros literários.
— Não publicamos poesia.
João recolheu a casa e criou duas personagens. Chamou-lhes Paulo e Virgínia para lhes garantir, à nascença, ecos literários anteriores.
— Não pode. Há um problema de géneros.
Sem saber como resolver o enigma, o autor — chamemos-lhe João, para complicar os factos — interrogou:
— De géneros? Se me chamasse Isabel poderia publicar o poema?
Explicaram-lhe que não se tratava de géneros gramaticais, nem biológicos, nem sociais, mas sim de géneros literários.
— Não publicamos poesia.
João recolheu a casa e criou duas personagens. Chamou-lhes Paulo e Virgínia para lhes garantir, à nascença, ecos literários anteriores.
2º Capítulo:
Um autor em busca de personagens
Paulo, rapaz poeta, inspirado nos seus actos de amor com Virgínia, escreveu:
«Punhalada de cálamo
acutilante em matéria
hesitante
Do veio ou ferida
incipiente pingam as palavras uma a uma
recolhidas
com piedade semântica».
Virgínia, também poeta, que hesitava em ir viver com Paulo no receio de se deixar apanhar nas armadilhas do trabalho doméstico, escreveu:
«Na fome das traças na podridão
dos bafios um outro real
se esboça construído
pela falta roído
pela necessidade esculpido».
Paulo, em dia de dificuldades (com dúvidas sistemáticas que começaram na gramática e se alastraram rapidamente a si próprio, ao mundo e ao significado último de todas as coisas), e contemplando Virgínia no acto de fazer a cama onde os dois tinham amado e dormido, escreveu:
[...]
Paulo, rapaz poeta, inspirado nos seus actos de amor com Virgínia, escreveu:
«Punhalada de cálamo
acutilante em matéria
hesitante
Do veio ou ferida
incipiente pingam as palavras uma a uma
recolhidas
com piedade semântica».
Virgínia, também poeta, que hesitava em ir viver com Paulo no receio de se deixar apanhar nas armadilhas do trabalho doméstico, escreveu:
«Na fome das traças na podridão
dos bafios um outro real
se esboça construído
pela falta roído
pela necessidade esculpido».
Paulo, em dia de dificuldades (com dúvidas sistemáticas que começaram na gramática e se alastraram rapidamente a si próprio, ao mundo e ao significado último de todas as coisas), e contemplando Virgínia no acto de fazer a cama onde os dois tinham amado e dormido, escreveu:
[...]
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