Primavera
Domingo
A FONTE
Com voz nascente a fonte nos convida
A renascermos incessantemente
Na luz do antigo sol nu e recente
E no sussurro da noite primitiva.
Segunda
GLÓRIA
Depois do Inverno, morte figurada,
A primavera, uma assunção de flores.
A vida
Renascida
E celebrada
Num festival de pétalas e cores.
Terça
Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás as mãos de quem te espera.
Quarta
ANUNCIAÇÃO
Surdo murmúrio do rio,
a deslizar, pausado, na planura.
Mensageiro moroso
dum recado comprido,
di-lo sem pressa ao alarmado ouvido
dos salgueirais:
a neve derreteu
nos píncaros da serra;
o gado berra
dentro dos currais,
a lembrar aos zagais
o fim do cativeiro;
anda no ar um perfumado cheiro
a terra revolvida;
o vento emudeceu;
o sol desceu;
a primavera vai chegar, florida.
Quinta
FLORES
Era preciso agradecer às flores
Terem guardado em si,
Límpida e pura,
Aquela promessa antiga
Duma manhã futura.
Sexta
Das QUADRAS AO GOSTO POPULAR
Tome lá, minha menina,
O ramalhete que fiz.
Cada flor é pequenina,
Mas tudo junto é feliz.
Teu vestido, porque é teu,
Não é de cetim nem chita.
É de sermos tu e eu
e de tu seres bonita.
Andorinha que vais alta,
Porque não me vens trazer
Qualquer coisa que me falta
E que te não sei dizer?
Água que passa e canta
É água que faz dormir...
Sonhar é coisa que encanta,
Pensar é já não sentir.
Sábado
COMO O RUMOR
Como o rumor do mar dentro dum búzio
O divino sussurra no universo
Algo emerge: primordial projecto.
4 comentários:
de quem é isto
Depende de quem queira saber
Quem quer que seja que deseja saber, acho que o leitor tem direito ao conhecimento da autoria.
Foi uma expiração filosofica do colaborador angel-12F
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